domingo, 10 de agosto de 2014

DELÍRIOS: Situá-los na realidade ou não?

Quando se trata dos delírios que são muito comuns em portadores de mal de Alzheimer, confesso que fico com um pé atrás. Sempre dizem para eu deixar ele acreditar naquilo que está falando. 



Tenho uma visão bem diferente disto. Pois bem, se eu concordar com tudo que ele diz, e não tentar explicar nada, como vai ser quando ele quiser ir embora? Quando dizer que "precisa cortar alguns panos para fazer tiras e amarrar os sacos de arroz?"




Existem métodos que descobri ser mais eficazes do que simplesmente concordar com ele. Muitas das vezes o que eu digo a ele acaba fazendo-o esquecer do delírio e partir para uma nova conversa, ou atividade. Como por exemplo, quando vejo a inquietude dele, peço para ele me ajudar a arrumar o quarto. Venho fazendo isso algumas vezes, ele me ajuda a dobrar lençóis, guardá-los no guarda roupa, vai me passando algumas coisas que peço... e por fim eu finalizo com um: 

"Ainda bem que você estava aqui pra me ajudar vô. Rapidinho a gente terminou isso aqui! :)"




Mas vamos aos fatos e explicar como e quando costuma acontecer:



1 - DURANTE O SONO



Com o meu avô a maioria das vezes no início, aconteceram durante o sono, sendo assim eu sempre tento explicar que é apenas um sonho e também tento mostrar a ele coisas que nós vimos antes de deitar. Como por exemplo, fotografias que ficam na parede e um relógio em formato de cubo com luzes que variam de cor. 
Ele acha bem bonitinho e o elogia sempre. \/



Então, quando ele acorda dizendo que tem alguém o esperando eu mostro o cubo, relembro de alguns fatos que fizemos antes de dormir, mostro algumas outras coisas também (como o meu irmão dormindo ao lado da cama dele). Daí ele se acalma um pouco e acaba dormindo. 

Para caso ele não acreditar e insistir: Eu deixo ele andar pela casa e ver por si só que não há nada que ele tenha que fazer além de dormir. As chaves nunca ficam na porta, para caso dele durante a "caminhada pela madrugada" querer ir embora.


É difícil e no começo não era fácil pois eu falava pra ele: 


"Vô volta pra cama, não tem nada pra fazer agora não... vamo dormir por favor!"


E é claro, grande bobagem a minha... pois isto só o irritava. Ele não tem ciência de que aquilo é um delírio. Por isso é importante NOS COLOCARMOS NO LUGAR DELES


Imagine você vendo uma coisa e alguém dizer: 
"Para com isso, fica quieto, isso não existe não". 


Durante a tarde ele sempre tira um cochilo. Ele tem um certo sono excessivo, os médicos costumam não acreditar muito quando falo pois é comum em idosos o sono diminuir. Com ele é diferente pois ele desde SEMPRE foi assim. Penso que talvez seja pelo fato de sempre ter trabalhado muito e estar sempre cansado.


Sendo assim, ele sempre tira um cochilo durante o dia. Pois deixa ele mais tranquilo e um pouquinho mais disposto, porque quando não dorme a tarde ele cochila a todo tempo.


De uns tempos pra cá os delírios tem ocorrido com uma certa frequência durante a tarde. Como em algumas vezes estou fora em algum compromisso, minha mãe fica com ele.


Quando ele acorda costuma estar perto do horário do café, se estiver tudo bem ele toma, assiste tv e fica tudo certo. Quando algo o está perturbando ele diz à minha mãe: 


"Olha, então eu vou indo lá viu... depois vocês chegam lá por que já tá na hora de ir embora."
Minha mãe sempre tenta explicar que ele deve ter sonhado e tudo mais e diz que logo mais o meu pai eu e meu irmão vamos chegar. 

Ás vezes funciona, às vezes não: Ele continua inquieto.


Como ele sempre foi uma pessoa muito responsável em relação à médicos e à horários de remédio eu disse para minha mãe dizer a ele que precisa tomar remédio e que eles estão aqui em casa. Caso ele vá embora, vai passar de hora e ele vai ficar sem o remédio. 
Quando está perto do horário da minha chegada minha mãe dá um comprimido que é pra ser tomado durante o dia, não precisa de um horário específico, mas agora estamos dando ele durante a tarde.
(assim ele vê que o remédio era verdade e não uma mentira pra que ele ficasse) 


Por mais que a gente pense que não, eles são muito espertos e inteligentes. Pegam as coisas fácil fácil no ar...


Mas tem dado certo... :)


2 - CONFUSÕES DURANTE CONVERSAS


Em relação à conversas se ele confunde alguma coisa simples eu deixo passar. 
Caso ele me pergunte eu digo: 

"É tal coisa, não é?" 

Como se eu também estivesse em dúvida, daí ele cai em si e diz:

"É, isso mesmo".

Ás vezes são coisas insignificantes, uma coisa comum que eu, você e qualquer pessoa poderia confundir. E como todo mundo, ele só quer ter certeza. Há momentos em que a gente precisa deixar de tratar a pessoa como um doente por que ele vai perceber que você não dialoga com ela, que só balança a cabeça, só sabe dizer sim...

Quando a confusão parte de algo que na concepção dele EU NÃO SABERIA COMO FOI POR QUE EU NÃO VIVI AQUILO, eu não discordo.

Quando ele diz que "Maria" se chamava "Christina" mesmo que eu saiba a verdade, eu deixo. Ele vai pensar e até mesmo dizer:



"Iih, mas você tá ficando doido mesmo hein (rs) Eu tava lá, eu lembro...".


3- QUANDO OS DELÍRIOS ENVOLVEM MEDO

Esses dias aconteceu um fato que antes (se não me falha a memória) nunca tinha acontecido:


Ele acordou assustado pensando que havia pessoas que entraram/pularam dentro de casa. A todo momento em casos como esse eu tentava o acalmar dizendo:
"Vô, fica tranquilo eu tava ali na cozinha agora mesmo. Não tem nada não, está tudo bem. Não precisa se preocupar, 
"*QUALQUER COISA EU VENHO AQUI TE CHAMAR".



*Esta frase que deixei em destaque é importante pois, ele sempre foi o pai da família, o homem da casa. 


Sendo assim, ele pensa e se sente mais seguro se eu o chamar. Acabou que por fim ele disse:"Ah então tá bom, pode chamar mesmo".


 É sempre muito, de extrema importância em qualquer visita que o portador da doença vá fazer que o cuidador explique aos moradores da casa o que se passa, e como devemos tratá-los. Nunca corrigir a pessoa, EU que sou CUIDADOR compreendo os momentos certos de EXPLICAR algo a ele, mas também entendo que há momentos que explicações não adiantam. Pessoas de fora do seu convívio por mais que sejam filhos, infelizmente não conseguem compreender o que se passa na mente de quem sofre com a doença.


O meu ideal ao criar este blog é o de tentar ensinar e levar adiante o máximo de informações a respeito da doença que eu puder. 


Sei que cuidadores podem estar confusos, não saber como lhe dar com certas situações. Eu não digo que sei de tudo, a cada dia algo diferente pode se manifestar no meu avô, e para isso eu vou procurar informações e associar aos cuidados com o meu avô. Por que cada caso é um caso, mas compartilhar essas informações é essencial. Talvez o que eu escrevo aqui hoje pode ser de muita utilidade para outro cuidador. 


E simples gestos aliviam bastante a dor de quem cuida.


Abraços, e até a próxima.

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